terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

QUARUP


O Quarup (Kuarup) é um ritual de homenagem aos mortos ilustres celebrado pelos povos indígenas da região do Xingu, no Brasil. O rito é centrado na figura de Mawutzinin, o Demiurgo ou Deus de algumas culturas indígenas da região do Xingu, no Brasil. É uma deidade antropomorfa e inacessível, sendo considerado também o primeiro homem do mundo. Criou os outros homens e instituiu o ritual do Kuarup.

Mawutzinin foi a causa primária da criação, deixando-a depois para que seguisse seu rumo próprio, não mais interferindo nos acontecimentos. Ao contrário de outras religiões como o Cristianismo, não se admite na religião do Xingu um comércio ou comunicação pessoal com Deus sob forma de preces ou invocações.
Kuarup também é o nome de uma madeira. Em sua origem o Quarup teria sido um rito que objetivava trazer os mortos de novo à vida.

O mito original
Mawutzinin, desejando trazer os mortos de volta, entrou no mato e cortou três troncos de kuarup, levando-os para o centro da aldeia. Ali os pintou e adornou com colares e penas. Mandou que fincassem os troncos no chão, e chamou duas cutias e dois sapos cururu para cantarem com ele, e distribuiu peixes e biju para o povo comer.

Incrédulos, os índios não cessavam de perguntar se os troncos iriam mesmo virar gente, ao que Mawutzinin respondia que sim, os troncos virariam gente. Então o povo da aldeia começou a se pintar e gritar. Cessada a cantoria, os índios quiseram chorar junto aos kuarup, pois representavam seus mortos, mas Mawutzinin os impediu, dizendo que viveriam, e por isso não podiam ser chorados.

No dia seguinte o povo quis ver os kuarup, mas Mawutzinin não deixou, dizendo que todos deviam esperar a transformação por mais um tempo. À noite os troncos começaram a se mexer, como se o vento os balançasse, e Mawutzinin ainda não permitiu que a gente os visse. Os sapos cururu e as cutias então cantaram para que assim que virassem gente os troncos fossem ao rio se banhar.

Quando o dia clareou a transformação já era evidente: da metade para cima os troncos já tinham forma humana. Os cantos continuavam, e Mawutzinin ordenou que todos os índios se recolhessem para suas ocas e não saíssem. Ao meio-dia a transformação já estava quase completa, e Mawutzinin chamou o povo para que saísse das ocas e fizesse uma grande festa, com gritos de alegria, mas aqueles que tivessem tido relações sexuais durante a noite não tiveram permissão para sair. Apenas um índio foi por isso impedido, mas não aguentando a curiosidade, saiu também, quebrando o encanto, e os kuarup voltaram a ser madeira.

Zangado, Mawutzinin disse que doravante os mortos não reviveriam mais no Quarup, seria apenas uma festa. E mandou que os troncos fossem removidos e lançados na água, ou no meio da mata, e assim foi feito.

O Quarup é realizado sempre em homenagem a uma figura ilustre, seja por sua linhagem seja por sua liderança, e é uma grande honra prestada a esta pessoa, colocando-a no mesmo nível dos ancestrais que viveram no tempo em que Mawutzinin andava entre os homens, e incorporando-a à história mítica.

O Início
Tipicamente o ritual inicia com a chegada de grupos de índios de outras aldeias, que ocorre em meio a muitas danças. Depois alguns índios vão ao mato e cortam um tronco de kuarup, constroem uma cabana de palha em frente à Casa dos Homens, e sob ela fincam o tronco no chão. A seguir o tronco recebe uma decoração, acompanhada de cantoria que elogia o aspecto formoso do morekwat (chefe) que está sendo homenageado, falando com ele como se se tratasse de uma pessoa viva.

Após estes preparativos, chegam os índios restantes, e acomodam-se na periferia da aldeia. Arma-se uma fogueira em frente ao tronco, sucedem-se danças e cantos, e um índio de cada grupo vai ao fogo recolher uma chama para acender as fogueiras dos grupos.

À noite acontece o momento de ressurreição simbólica do chefe homenageado, sendo um momento de grande emoção. Então as carpideiras começam o choro ritual, sem que os cantos em volta sejam interrompidos. Aos primeiros raios do sol do dia seguinte o choro e o canto cessam, os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens.

O huka-huka como luta ritual

Como luta ritual, o huka-huka é praticado durante o Quarup e possui simbolismo competitivo, onde a força e virilidade dos jovens é testada. A arte marcial está inserida num amplo contexto de competições realizadas em virtude do Quarup.

Aos primeiros raios do sol do dia seguinte ao início do Quarup, termina o momento de ressurreição simbólica e o choro e o canto cessam. Os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições de huka-huka entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens.

Então o morekwat da aldeia que sedia o Quarup se ajoelha diante do morekwat de cada tribo visitante e, em sinal de boas vindas, lhe oferece peixe e biju, que são distribuídos entre os seus.

Terminadas as lutas ocorre um ritual de troca, moitará, onde cada aldeia oferece produtos de sua especialidade. O ritual é encerrado com o tronco sendo lançado às águas.

LIVROS

Mavutsinim e o Kuarup
Rosana Rios
Ilustrações Rubens Matuck
Temas Diversidade cultural • Meio ambiente e natureza
• Mitos fundadores • Relação entre mortos e vivos
• Rituais indígenas. Superação da morte • Xingu
http://www.edicoessm.com.br/backend/public/recursos/Guia%20de%20leitura%20Mavutsinim%20e%20o%20Kuarup.pdf




Quarup 
é um romance do escritor brasileiro Antônio Callado publicado em 1967.


Sinopse


A ação de Quarup transcorre no período que vai do suicídio de Getúlio Vargas (1954) ao golpe militar de 1964 e mostra, sob a ótica do jovem padre Nando, a realidade social e política do Brasil desses tumultuados dez anos.


O padre Nando, um jovem ingênuo, puro e idealista, tem o sonho de reconstituir no Xingu uma civilização semelhante a que existiu nas Missões jesuíticas do sul do Brasil na época colonial e, para isso, tem que ir ao Rio de Janeiro, então capital do país, para obter a necessária licença do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão que deu origem à atual FUNAI.


No Rio, toma contato com a sociedade permissiva do sexo livre e das drogas (que na época era o hoje o inocente lança-perfume) e com a corrupção política, pois os dirigentes do SPI desejam manipular o projeto de Nando em proveito próprio.


A segunda parte do livro transcorre no Xingu, em duas ocasiões diferentes: durante o quarup, ritual indígena, que funciona para Nando e outros personagens do romance como um rito de passagem, e durante a expedição para instalação do marco que identifica o centro geográfico do país, onde constata que o esforço despendido e a coragem demonstrada pelos expedicionários são inúteis para evitar um resultado frustrante. Na Amazônia, Nando se apaixona por Francisca, com quem mantém relações sexuais.


Na terceira parte, Nando, que já deixou a vida sacerdotal, está com Francisca em Pernambuco. Inicialmente, trabalha na alfabetização de adultos, mas, com o golpe de 1964, é preso, pois esta atividade educativa era vista como subversão. Francisca viaja para a Europa e, depois de solto, Nando passa então a viver uma vida despreocupada, centrada apenas no sexo, se transformando, conforme suas próprias palavras, em apóstolo do amor. Mas, após passar por várias experiências traumáticas, resolve aderir à luta armada contra o regime militar.

http://www.cortel.com.br/blog/2011/09/02/quarup-a-despedida-dos-grandes-guerreiros-do-xingu/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quarup

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