A cultura material asurini compreende os seguintes itens: cerâmica, tecelagem, cestaria, armas, enfeites corporais, bancos de madeira e instrumentos musicais (flautas). A cerâmica e a tecelagem (redes, tipóias, tiras de cabeça e outros enfeites feitos de algodão) estão a cargo da mulher. Os potes de cerâmica servem como recipiente para transportar e depositar água, servir alimentos e prepará-los
ao fogo. Nesse último caso, são vasilhames de barro que se tornam pretos com o
uso. Para os demais usos, a cerâmica é decorada com desenhos geométricos.
A cerâmica é elaborada a partir de uma argila extraída de depósitos que distam da aldeia em torno de um a dois quilômetros, localizados próximos às margens do rio Xingu. Os vasilhames são confeccionados a partir da técnica do acordelado, ou seja, da sobreposição de roletes. A forma da vasilha vai sendo dada a partir da união dos roletes e com o auxílio de uma espátula de cabaça (kutiapé). É com ela, também, que vai sendo dado o alisamento inicial da peça que, por sua vez, será complementado durante a secagem da mesma, com o auxílio de um coco de inajá (Maximiliam Régia) ou de um seixo rolado. A borda dos vasilhames costuma ser definida com os dedos ou com a utilização de uma espécie de líquen que a torna fina e uniforme. Depois de seca, a vasilha passa por uma queima inicial, sendo colocada junto ao fogo até apresentar sua superfície bem escurecida. Depois, é queimada em atmosfera oxidante com cascas de diferentes tipos de árvores.
O acabamento final das peças não decoradas compreende uma camada de uma substância contida na entrecasca do caule de uma arvore (t(*s)it(*s)i´wa), dando-lhes uma cor marrom-avermelhada. Na pintura das peças decoradas é utilizada matéria-prima mineral, isto é, pequenas pedras de três cores: amarelo (itawá), vermelho (itawapiringi) e preto (itawaondi). Esfrega-se essas pedrinhas em uma outra maior com um pouco de água, obtendo-se então a tinta. O amarelo é usado como fundo, pintando-se com essa cor toda a superfície externa da peça. O preto e o vermelho são usados na elaboração de desenhos geométricos. Estes são feitos com a utilização de pincéis que podem ser feitos de pequenos pedaços de madeira encapados de algodão, talo de folha de palmeira, haste de plantas ou fibra de pena de mutum. Depois de completa a pintura, deixa-se secar. Em seguida, passa-se uma camada de resina da árvore de jatobá (hymenaea), chamada dzotaika, sobre a superfície externa da peça, dando-lhe brilho e fixando a tinta.
Além de cerâmica, são decorados com desenhos geométricos as cuias (gravura), arco e enfeites (traçado). De um vasto repertório de motivos e padrões de desenhos usados na decoração destes itens da cultura material, são tirados também aqueles que ornamentam o corpo tatuado e pintado de jenipapo. Esses desenhos são estilizações de elementos da natureza, bem como representações de seres sobrenaturais ou elementos simbólicos, como Anhynga kwasiat (ser mítico que deu o desenho aos homens) e Taingawa (boneco usado nos rituais xamanísticos e que significa também "imagem, modelo, réplica do ser humano).
O SISTEMA DE ARTE GRÁFICA
Os desenhos geométricos utilizados na decoração do corpo, da cerâmica, das cabaças e outros itens da cultura material asurini compreendem um sistema de arte gráfica, com uma gramática própria e cujo conteúdo se relaciona a diferentes sistemas de significação. Esses desenhos são estilizações de elementos de natureza, bem como representações de seres sobrenaturais ou elementos simbólicos, como Anhynga kwasiat (ser mítico que deu o desenho aos homens) e i (boneco usado nos rituais xamanísticos e que significa também "imagem", "modelo", "réplica do ser humano"), respectivamente.
O primeiro motivo aparece também no traçado feito pelos homens, usado na decoração de arcos cerimoniais e enfeites corporais. Da natureza, vários são os elementos estilizados: cipó entremeado na mata (kapuenwi), feijão grande (kumandaoho), pata de jabuti (dzawotsipa(*p)era), rabo de macaco (kaiwarinhyna), favo de mel (ehiraimbawa) e cangote de onça pintada (d(*z)awara(*z)orywa), por exemplo.
Há motivos de desenho que levam o nome de acordo com sua aplicação em determinadas superfícies: tamaki(*z)oak (pintura de perna), kuaipei (desenhos na cabeça), d(*z)a´ek(~y) (cabeça da d(*z)a´é, nome de uma das peças de cerâmica cuja borda se usa este motivo decorativo). O enfeite labial chamado Tembekwara também é estilizado, representando-se no desenho de uma de suas partes, a qual dá o nome ao motivo: tembekwá reropitá.
Na decoração do corpo, o significado dessa manifestação artística está relacionado à categorização social dos indivíduos. Os motivos de pintura são comuns a ambos os sexos. A divisão do corpo, entretanto, como critério de distribuição dos desenhos, difere segundo o sexo. Entre as mulheres, o ventre é marcado por um desenho que divide a parte da frente do corpo em duas, verticalmente.
Entre os homens, esta divisão se dá no sentido horizontal, isto é, obedecendo à mesma divisão da tatuagem: o desenho nos ombros (d(*z)etii´iwapawa) e linhas horizontais, de ombro a ombro, delimitam a parte de cima que não é pintada. A tatuagem marca, no homem, sua participação nas atividades guerreiras e, na mulher, as fases de ciclo de desenvolvimento biológico e social.
Assista à animação desenvolvida por Ricardo Artur Pereira de Carvalho como projeto de conclusão do curso de Desenho Industrial/ Comunicação Visual, pela PUC-Rio.
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/asurini-do-xingu/1283
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