terça-feira, 9 de agosto de 2011

Exposição Séculos indígenas no Brasil

Frank Coe (D) é um dos idealizadores da
mostra multimídia:
"Nossa proposta é educar pela arte"

Foram necessários 19 anos de pesquisa e 45 horas de filmagens para Frank Coe e Álvaro Tukano chegarem à versão final da exposição Séculos indígenas no Brasil. A partir desta terça-feira (9/8), a mostra leva ao Memorial dos Povos Indígenas um conjunto de filmes e imagens idealizados para facilitar o acesso de professores e alunos ao universo dos povos nativos brasileiros. Coe e Tukano conceberam a exposição de maneira didática como um exemplo para estimular a execução da Lei 11.645, que desde 2008 tornou obrigatório o estudo das culturas afro-brasileira e indígena nas escolas de ensino médio e fundamental.

A primeira versão de Séculos indígenas no Brasil é de 2005, quando a lei ainda não estava em vigor. Desde então, o acervo do projeto cresceu e as origens indígenas do povo brasileiro passaram a ser tema obrigatório nos currículos escolares, um detalhe que fez os coordenadores da exposição incrementarem o programa educativo. A maioria dos mediadores selecionados para guiar os visitantes são indígenas e a versão brasiliense da mostra tem documentário inédito, montado a partir das 45 horas de imagens recolhidas durante três meses de viagem por mais de 30 mil km². No total, a equipe visitou 20 etnias escolhidas por Tukano e Aílton Krenak, também líder indígena. "Nossa proposta é educar pela arte e o público prioritário será de professores e alunos das redes pública e privada. A exposição é uma experiência multimídia com três vértices", explica Coe.

Para aproximar o público do universo indígena, o Memorial foi preenchido com uma enorme cobra construída em bambu. No interior, chão de terra batida ajuda a ambientar o espaço expositivo, que traz o acervo do próprio museu e reproduções de obras pertencentes a instituições como o Museu de Etnologia de Genebra (Suíça), o Museu do Índio do Rio de Janeiro, o Instituto Socioambiental e o Museu Dahlem (Alemanha).

Audiovisual
A parte mais consistente e importante da mostra será exibida no auditório em formato audiovisual. Mescla de documentário e animação, o inédito Maíra, de Darcy Ribeiro: um deus mortal? é uma adaptação parcial do livro Maíra, publicado pelo antropólogo em 1976. "Na verdade, diz respeito a sete capítulos em que Darcy trata dos mitos dos povos indígenas. Ele conta a origem do mundo segundo os indígenas", conta Coe, diretor do documentário. Intercaladas à animação estão cenas de arquivo e imagens filmadas ao longo do projeto, além de uma entrevista inédita com o antropólogo gravada em 1995. "É uma entrevista na qual ele faz uma apresentação do texto A invenção do Brasil", diz o diretor. Além do longa, os visitantes poderão conferir os curtas Reflexões e Reflexões do curumim, destinados ao público infantojuvenil.

A vertente educativa e didática da mostra é um dos aspectos mais importantes do projeto para Rosane Kaingang, presidente da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul e consultora de Coe. "Temos que trabalhar a capacitação dos professores e subsidiá-los para fazerem um trabalho nas escolas não indígenas", explica. "Para nós é importante que a Lei 11.645 seja executada para que os indígenas não sejam discriminados em sala de aula." Além de oficinas programadas para o fim da visita, a exposição conta com uma ação paralela. Durante o 3º Módulo do Fórum de Atualização sobre Culturas Indígenas, professores das redes pública e privada poderão realizar curso de formação para mais tarde trabalhar o conteúdo em sala de aula.

Para Coe, a característica fundamental da mostra é o fato de ter sido concebida em parceria com os indígenas. "As diretrizes foram definidas pelas lideranças indígenas", garante. "A ideia era fazer um trabalho de documentação diferente do que vinha sendo feito, em que os indígenas tivessem a oportunidade de definir essa informação." Por isso, foi importante incluir o acervo do Memorial dos Povos Indígenas, uma coleção doada por Darcy Ribeiro, coletada durante mais de três décadas e hoje avaliada em R$ 850 mil. "As peças de artesanato passam uma imagem do indígena concebida pelo indígena sem a intermediação de não indígenas", repara Coe.
http://divirta-se.correioweb.com.br/materias.htm?materia=13386&secao=Programe-se&data=20110809

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