quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Entre a aldeia e o mundo do colonizador

Por Ana Aranda


Sem poder apresentar a Carteira Indígena, cuja emissão está proibida pela justiça, indígenas vivem o dilema de não poder provar que são índios.

Ser ou não ser. Um índio que sai da aldeia para buscar uma melhor alternativa de vida, porque na aldeia não há alternativas, deixa de ser índio? Na dúvida, a Funai, por uma decisão da justiça, parou de emitir a Carteira Indígena, documento que serve para oficializar a cidadania indígena. Sem a carteira, os índios que vivem na cidade foram ‘descrendeciados’ pelos responsáveis pela saúde indígena (em processo de transição entre a Funasa e a Secretaria Especial de Saúde Indígena). Também estão descredenciados aqueles que foram expulsos de seus territórios tradicionais e hoje buscam o reconhecimento de suas raízes. É o caso, em Rondônia, dos Puruborá, Migueleno, Cujubim, Wayoró, Canoé, Cassupá, Salamãi, Macurap, Tupari, entre outros, de acordo com o Ministério Público Federal.

Reconhecendo a fragilidade dos indígenas frente ao mundo do colonizador, o governo brasileiro destina verbas especiais para o tratamento de saúde dos mesmos. Dinheiro este que vem tendo outras aplicações em algumas prefeituras. Mas o pior é que, com carteira ou sem carteira, a saúde indígena está em frangalhos. Quem mora na aldeia sofre porque está muito longe dos médicos e órgãos de atendimento e quem mora na cidade passa por todo o sofrimento a que nós, não-índios, estamos sujeitos em caso de doença.

Vítimas de uma política equivocada, que os tratavam como incapazes, e hoje acuados pela ocupação cada vez mais rápida dos territórios para onde foram empurrados ao longo da história, os indígenas já não conseguem levar a vida tradicional. Sem a fartura de caça e pesca que antes havia, muitos sobrevivem com cestas básicas. Sem contar com meios para gerar renda, eles se encontram em uma encruzilhada entre o mundo dos antepassados e o mundo do colonizador, enfrentando uma realidade que não perdoa aqueles que não “produzem”.

Taxados durante séculos como lesos e preguiçosos, até mesmo nos livros escolares, os indígenas são altamente discriminados e não têm acesso à educação formal. Migram para a cidade em busca de uma saída e aí perdem o direito de ser índio. A não ser, é claro, que apresentem a carteira. A situação é muito grave e merece um olhar mais atento da sociedade e do poder público. A doença, a fome e o sofrimento não esperam. As medidas necessárias precisam ser tomadas agora, com urgência.

Fonte: Amazoniadagente.com

http://www.tudorondonia.com/noticias/entre-a-aldeia-e-o-mundo-do-colonizador-,22991.shtml

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