quinta-feira, 30 de junho de 2011

Álbum Purus

Assembleia realizada na aldeia Crispim, na terra indígema Paumari,
na bacia do Purus (Divulgação/Focimp)
Coletânea da Ufam refaz painel histórico sobre a dinâmica extrativista na região do rio Purus
"Álbum Purus" apresenta um aprofundado estudo sobre os agente sociais (índios, extrativistas, seringueiros, ribeirinhos) presentes na região

Muito se comenta, mas pouco se estuda sobre a bacia do rio Purus, no sul do País. O vale do Purus é emblemático no seu aspecto histórico, sobretudo na sua contribuição para a economia extrativista e a exploração da borracha e na pouco mencionada participação dos povos indígenas nessa dinâmica social.

Para preencher um vazio bibliográfico na historiografia e na etnografia regional que ultrapasse as reflexões meramente positivas e naturalistas, um grupo de professores da Universidade Federal do Amazonas e de outros instituições do país, além de membros que atuam como especialistas em organizações não-governamentais, empreendeu uma jornada nas fontes documentais diversas (que incluem inclusive notas comerciais, microfilmes, fotografias, relatos de órgãos indigenistas) sobre o Purus, que abrange desde o final do século 19 até os nossos dias.

A coletânea “Álbum Purus”, publicada pela Editora da Ufam (Edua), propõe fazer uma revisão bibliográfica e um estudo atualizado e ressignificado da atuação dos povos nativos e dos seringueiros na dinâmica extrativista que ainda resistia naquela região, não obstante o colapso da economia da borracha.
A coletânea, escrita por 15 autores e organizada pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Cultural (PPGAS), Gilton Mendes dos Santos, será lançada na próxima sexta-feira (1º). O lançamento acontece na sede do PPGAS, na rua Ferreira Pena, S/N, Centro.

Indígenas
Quando Euclides da Cunha (1866-1909) se aventurou pela Amazônia no início do século 20, empreendendo uma jornada desastrosa que culminou em um estudo quase antipático sobre a região, poucas páginas foram dedicadas aos indígenas.

Euclides da Cunha tinha a missão de mapear as cabeceiras do rio Purus. Inspirado no pensamento positivista, o escritor defendia o progresso do país pela ocupação do “homem amazônico” e nesse empreendimento não havia espaço para a presença indígena, com exceção de sua integração. Pensamento, aliás, cuja herança ainda permanece em muitos ideais de autores que estudam a Amazônia.
Nesta época, a bacia do Purus se transformara na última opção de exploração e comercialização da borracha, em uma época de colapso da economia regional gumífera. Os barracões, o sistema de aviamento, o recrutamento de nordestinos continuaram em franco crescimento.

Os textos do “Álbum Purus” procura dar a devida relevância dos povos indígenas na dinâmica extrativista da borracha, além de mostrar, por meio de documentos, que a maioria deles foram recrutados, com anuência do então Serviço de Proteção ao Índio (SPI), sob a justificativa de que, fora de seus territórios, estariam mais seguros.
Territórios foram tomados, alguns grupos considerados “hostis” foram caçados e exterminados. Os indígenas foram tão vítimas (ou mais) do que os nordestinos que vieram para um “ambiente hostil que os levava até mesmo a cometer atrocidades” , para citar uma análise de Euclides da Cunha.

Painel
Os autores Renan Freitas Pinto, Davi Avelino Leao e Gilton Mendes Santos fazem um resgate das anotações Euclides da Cunha. Almir Diniz de Carvalho Júnior remonta o papel da empresa JG Araújo, empresa que resistiu às crises com sua impressionante presença no comércio de vários produtos da região do Purus até Manaus.
A coletânea traz ainda estudos sobre o papel do SPI e os postos indígenas que atraiam indígenas para atividades extrativistas e de agricultura, um relevante trabalho que cobre a lacuna sobre a presença das populações nativas na região.
A coletânea também traça um painel contemporâneo sobre as presença e as relações entre os principais agentes sociais que vivem na região, especialmente indígenas, ribeirinhos e extrativistas.
O autor Miguel Aparício chega a apontar uma “reconfiguração territorial da região, há uma tendência ao aumento da disputa pelos recursos naturais entre índios e extrativistas”.

“O atual Purus passa a ser o ricochete das tantas projeções feitas no passado por Euclides da Cunha (...). Aí não se instalou o grande projeto civilizador, e aqueles que soçobrariam a este – seus povos nativos – ocultos e silenciados pela pena do erudito escritor, agora roubam a cena, nos brindando com um modelo de vida e modos de conceber a Amazônia tão necessária nos tempos atuais”, escreve Gilton Mendes dos Santos, na Introdução do livro.

Elaíze Farias
http://acritica.uol.com.br/amazonia/Amazonia-Amazonas-Manaus-Coletanea-Ufam-historico-extrativista-Purus_0_506958889.html

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