Os povos indígenas emergentes são povos indígenas que em um dado momento histórico pararam de se reconhecer como tal e que, a partir de um novo contexto histórico, passaram a reafirmar esta identidade, num processo conhecido como etnogênese. No Brasil, este processo vem ocorrendo em várias regiões, sobretudo no Nordeste brasileiro. Na maioria dos casos os membros dos povos emergentes tem muito pouca ou nenhuma semelhança étnica ou cultural com os índios originais. Tal fenômeno se deve a recente tendência legislativa brasileira de oferecer vantagens para determinados grupos étnicos, o que estimula indivíduos a casuisticamente incorporar novas identidades para fazer jus a tais benesses.
No nordeste brasileiro
A região do nordeste brasileiro abriga diversas comunidades indígenas. Caracterizados pelo fenômeno das emergências étnicas, os grupos indígenas na região vem aumentando em número ao longo do século XX. Abaixo é apresentado um quadro sintético dos processos de emergência étnica na região.
Na década de 40 já eram reconhecidos e tinham postos indígenas do Serviço de Proteção aos Índios - SPI funcionando, os povos indígenas:
Fulni-ô/PE,
Potiguara/PB,
Pankararu/PE e
Pataxó-Hã-Hã-Hãe/BA ("remanescentes" Pataxó, Baenã, Kariri-Sapuyá, Kamakã e índios de Olivença).
Em Minas Gerais havia postos para atender os
Maxakali
e Krenak ("remanescentes" dos grupos Botocudos Nakrehé, Krenak, Pojichá) os últimos "índios selvagens" do Leste.
Durante os anos 40 foram instalados postos para atender os
Tuxá/BA,
Atikum/PE,
Kiriri/BA e
Kariri-Xokó/AL.J
á havia notícias a respeito dos
Xukuru/PE e Xukuru-Kariri/AL que só vieram ter postos indígenas na década de 1950.
Mobilizações como a dos
Truká/PE, Kambiwá (índios da Serra Negra)/PE
e Pankará/PE iniciam-se timidamente nestes anos.
Totais nos anos 1940: 10 postos indígenas incluindo Maxakali e Krenak. Mais notícias de pelo menos 5 outros grupos se mobilizando.
Na década de 50 O Antropólogo norte-americano David Hohenthal Jr. em textos publicados num relatório entregue ao SPI, sobre os índios da 4ª Inspetoria Regional do SPI - IR 4, especialmente os do Rio São Francisco menciona a existência ainda dos
Pankará (Serra da Cacaria),
Kambiwá (em Serra Talhada, fugidos da Serra Negra),
Truká, Pankararé/BA e
Shokó de Olho d'Água do Meio (atuais Tingui-Botó)/AL,
Natu, em Pacatuba, Sergipe e Baishóta, na imediações da Serra Umã/PE.
Os Wakonã que ele menciona seriam os Xukuru-Kariri.
Alguns destes povos iniciam mobilizações étnicas e passam a contar com postos indígenas constituindo um novo momento nos processos de etnogêneses na região: Kambiwá e Pankararé.
Na Bahia são criados postos para atender os
Kaimbé e os Pataxó de Barra Velha,
em Minas os Xakriabá são reconhecidos em finais dos anos 1960.
Na virada para os anos 1980 mobilizam-se os
Xokó da ilha de São Pedro em Sergipe,
os Tingui-Botó,
Karapotó
e Wassu-Cocal em Alagoas,
os Truká e Kapinawá em Pernambuco.
Os Tupiniquins e Guaranis do Espírito Santo também se mobilizam por esta época.
A partir de 1986 ganham corpo as reivindicações dos
Tapeba
e Tremembé no Ceará,
dos Jeripankó em Alagoas e dos Kantaruré e Pankaru na Bahia.
Desse modo chegamos ao final dos anos 1980 com um total de 29 povos indígenas no Leste-Nordeste.
A década de 1990 as emergências étnicas estenderiam-se ainda mais pela região, abrangendo grupos no:
Ceará (Pitaguary, Jenipapo-Kanindé, Kanindé, Tabajara, Kariri, Kalabaça e Potiguara),
Alagoas (Kalankó e Karuazu),
Minas Gerais (Caxixó e Aranã),
Pernambuco (Pipipã)
Bahia (Tumbalalá).
Século XXI
Nos últimos cinco anos, outros grupos tem emergido, como os Pankará e Pankaiuká, em Pernambuco, os Catökinn, Koiupanká e Aconã em Alagoas, os Tupinambá de Olivença e Tupinambá de Belmonte na Bahia, os Eleotério do Catu, Mendonça do Amarelão e Caboclos do Assu no Rio Grande do Norte, os Anacé, Jucá, Payaku e vários grupos Tremembé, Tabajara e Potiguara no interior do Ceará, até mesmo no Piauí já há notícias de um grupo se organizando através da Associação Itacoatiara dos Remanescentes Indígenas de Piripiri e dos grupos Codó Cabeludo, em Pedro II e Kariri (Caboclos da Serra Grande) em Queimada Nova. Na Paraíba organizaram-se os Tabajara no litoral sul do estado.
Outras comunidades
Para completar este quadro podemos afirmar que há registros da existência de “comunidades” com ascendência indígena em vários outros locais do Nordeste e que no futuro podem demandar reconhecimento, alguns grupos já o fazem, mas enfrentam oposições até mesmo de certas parcelas do movimento indígena:
No Ceará, há registros de grupos identificados como
Tubiba-Tapuia,
Gavião,
Tupinambá,
Kariri e
Paupina
Em Pernambuco, há mobilização étnica no Brejo do Gama, seguindo a esteira da etnogênese Pankará; alguns antropólogos e missionários identificam populações com ascendência indígena em Triunfo, Barreiros, Orocó e Santa Maria da Boa Vista, em áreas de antigas missões, mas que não mobilizam de modo amplo (para setores do estado e intermediários da sociedade civil) sua origem indígena enquanto um elemento político, há um certo tipo de reconhecimento local dessas identidades, embora também haja o reconhecimento de ascendência negra, e o que é mais forte na região de Orocó e Sta Maria da Boa Vista (rio São Francisco) é a participação no circuito de trocas rituais do toré e da jurema com os índios Truká, Tumbalalá e Atikum. Fora o fato de que estas comunidades encontram-se ameaçadas de serem relocadas pela construção de barragens nas imediações da Ilha da Assunção.
Mais recentemente, no município de Paulo Afonso na Bahia, uma comunidade multiétnica de índios urbanos, composta por famílias Truká, Pankararu e Fulni-ô passou a reivindicar o reconhecimento como povo indígena Tupã.
Outras regiões do Brasil
O fenômeno das etnogêneses pode ser encontrado também em outras regiões do Brasil como o Centro-Oeste, casos dos grupos: Tapuio, Krahô-Kanela, Chiquitanos, Kamba, Guató, Kinikinawa e Ofayé.
Pará: a região do Baixo Tapajós-Arapiuns concentra cerca de uma dezena de etnias indígenas neste movimento de ressurgimento étnico: Arapium, Maytapu, Borari, Tupinambá, Tapajó, Tupaiú, Arara Vermelha, Cumaruára, Cara Preta, Munduruku, Timbira e Apiaká. Ainda no Pará, mas em outras regiões vamos encontrar os Arara do Maia e vários pequenos grupos Tembé se organizando etnicamente.
Amazonas, diversos movimentos de indígenas urbanos, principalmente me Manaus, mas também no Baixo Solimões e no Baixo Rio Negro, além de inúmeros grupos Mura.
Acre: Apolima, Nawa e Contanawa. Todos na região do Alto Juruá.
Rondônia: Poruborá, Kujubim, Migueleno e Kwazá, se fazem ouvir e organizar:
Roraima: Sapará, nas regiões de Amajari e Taiano.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Povos_ind%C3%ADgenas_emergentes
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