quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

SEPÉ TIARAJÚ, HERÓI E SANTO

Ficheiro:Memorial da Epopeia Riograndense 80a.jpg
Sepé Tiaraju segundo Danúbio Gonçalves



SÃO SEPÉ,
Um santo canonizado pelo povo.
Um índio missioneiro Guarani,
católico e fervoroso devoto de São Miguel Arcanjo.
Hoje, um herói nacional.

Nasceu supostamente na Missão de São Luís Gonzaga

Foi um herói na guerra guaranítica, conflito que envolvia as demarcações das terras do Tratado de Madrid, ocorrido em 1750, onde ..."“Das povoações ou Aldeias que cede Sua Majestade católica na margem oriental do Uruguai, sairão os Missionários com todos os móveis e efeitos, levando consigo os índios para aldear em outras terras de Espanha; e os referidos índios poderão levar também todos os seus bens móveis e semoventes, e as Armas, Pólvora e Munições, que tiverem: em cuja forma se entregarão as Povoações à coroa de Portugal, com todas as suas Casas, Igrejas e Edifícios e a propriedade e posse do terreno.”... artigo 16 do do tratado.

Ficheiro:Sepé Tiaraju-São-luizense e Missioneiro.jpg
Estátua de Sepé Tiaraju

Mas Sepé Tiarajú já era um indígena catequisado e inserido dentro da cultura jesuítica. Sua luta foi para defender o pouco que os indis tinham direito, após as invasões europeias. Não era um cacique e sim um comandante, algumas de suas biografias,  descrevem ter ficado órfão de pai e mãe aos 8 anos de idade e adotado pelo padre Miguel, jesuíta da Missão de São Luis Gonzaga.


Sepé liderou a resistência indígena aos ataques portugueses e espanhóis, que tinham por objetivo a ocupação deste território rico em terras e gado. Os Guaranís que participavam das Missões resistiram por mais de 3 anos às invasões sob o comando e estratégia guerreira de Sepé. Sua estratégia era a da guerrilha, pois não tinha a formação necessária a uma guerra tradicional, para enfrentar os exércitos de Portugal e Espanha.

Sepé foi eleito oficialmente corregedor da Missão de São Miguel no dia 1 de janeiro de 1750.
-“Esta terra é nossa! Nós a recebemos de Deus e do Arcanjo São Miguel! Somente eles nos podem deserdar!”
Os inimigos percebendo que o que alimentava a resistência indígena era a força de Sepé, decidem concentrar seus esforços em eliminá-lo.
Morreu em combate conta o exercito espanhol na entrada da  cidade de São Gabriel em 7 de fevereiro de 1756.

A ÚLTIMA BATALHA:
Os índios lutavam com um ardor nunca visto. Uma coragem que desprezava as possantes armas do inimigo, deixando-o surpreso. Dentre os combatentes, sobressaía-se a figura de Sepé Tiaraju. Ele era invencível! Lutando como lutava, sem temor, sem a mínima cautela, já era para estar morto. Não se cansava. Era sempre o mesmo.
O inimigo percebeu que ele era o coração de seus guerreiros. Era sua presença que os animava. Resolveu, portanto, concentrar-se nele. Aos punhados, os soldados o atacavam, nem assim conseguiam vencê-lo.
Sepé foi rodeado por dez soldados. À sua volta, a luta prosseguia. O guerreiro enfrentou corajosamente os dez atacantes, mas era demais! E enquanto lhes dava combate, um deles conseguiu atingi-lo com a lança. Sentindo-se ferido, o índio ainda tentou resistir, agarrando-se ao pescoço do cavalo, mas fugiam-lhe as forças. Tudo escureceu. Seus braços não suportaram mais e ele caiu no chão, quase morto. Um soldado aproximou-se, montado a cavalo, e fitou, por um instante, o valente guerreiro; em seguida, apontando-lhe a arma, atirou.
Sepé estava morto. Deixara de existir o defensor dos povos das Missões.
Todos os índios que olharam para o céu viram um cavaleiro galopando um cavalo de fogo, envolto por uma luz azulada muito bonita. Na mão direita, o cavaleiro empunhava a lança.

Era Sepé, indo ao encontro de Tupã.
Morria o líder e nascia o mito indígena. Entre indígenas catequisados, o mito converteu-se em santo católico, não perdeu seus poderes, apenas fundiu as duas fés em uma só entidade.

Após sua morte, guaranis e jesuítas perderam sua força e com ela a esperança da reistência, muitos mortos. Os que viveram, partiram deixando sua  amada terra como prêmio à cobiça dos invasores.


"Arroio S. Sepé - no município de Caçapava; nasce na coxilha de Babiroquá e deságua no Vacacaí. Deve o nome, que lhe foi posto pelos Jesuítas, ao célebre chefe índio José Tiaraiú, conhecido por Sepé, vencido e morto na batalha de 7 de fevereiro de 1756, no sopé da Coxilha de Sta. Tecla, perto de Bagé.
"Era à margem deste arroio que existia a sepultura do referido índio, indicada por uma grande cruz de madeira, com uma inscrição - meio em latim, meio indiático -, que dizer o seguinte:






+ Em Nome de Todos os Santos +
No ano de Cristo Jesus de 1756
a 7 de fevereiro
morreu combatendo
o grande chefe guarani Tiaraiú
em um sábado santo
+ Subiu ao Céu dias antes do que +
o grande chefe da Taba do Uruguai
que morreu a 10 de fevereiro em quarta-
feira cobatendo contra um exército de
15.000 soldados.
+ Aqui enterrado +
A 4 de março
mandou levantar-lhe esta cruz
o padre D. Miguel
Descansa em paz
+
"Conforme a homenagem prestada pelos Jesuítas, na inscrição e na denominação do arroio, e não havendo no calendário católico santo de nome Sepé, temos que concluir que as virtudes, o mérito do grande chefe índio foram forais para a sua estranha canonização, no entretanto perdurável e popularizada.
"Foi sob tal aspecto que recordamos aqui este curioso fato......................"
(Cancioneiro Guasca) http://www.ufpel.tche.br/pelotas/saosepe.html


O LUNAR DE SEPÉ
Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!

Mandaram por serra acima
Espantar os corações;
Que os Reis Vizinhos queriam
Acabar com as Missões,
Entre espadas e mosquetes,
Entre lanças e canhões!...

Cheiravam as brancas flores
Sobre os verdes laranjais;
Trabalhava-se na folha
Que vem dos altos ervais;
Comia-se das lavouras
Da mandioca e milharais.

Ninguém a vida roubava
Do semelhante cristão,
Nem a pobreza existia
Que chorasse pelo pão;
Jesus-Cristo era contente
E dava sua benção...

Por que vinha aquele mal,
Se o pecado não havia?...
O tributo se pagava
Se o vizo-rei o pedia,
E até sangue se mandava
Na gente moça que ia...

Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!

Os padres da encomenda
Faziam sua missão:
Batizando as criancinhas,
E casando, por união,
Os que juntavam os corpos
Por força do coração

Dum sangue dum grão-Cacique
Nasceu um dia um menino,
Trazendo um lunar na testa,
Que era bem pequenino:
Mas era um cruzeiro feito
Como um emblema divino!...

E aprendeu as letras feitas
Pelos padres, na escrita;
E tinha por penitência
Que a sua própria figura
De dia, era igual às outras...
E diferente, em noite escura!...

Diferente em noite escura,
Pelo lunar do seu rosto,
Que se tornava visível
Apenas o sol era posto;
Assim era Tiaraiú,
Chamado Sepé, por gosto.

Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!

Cresceu em sabedoria
E mando dos povos seus;
Os padres o instruíram
Para o serviço de Deus,
E conhecer a defesa
Contra os males dos ateus...

Era moço e vigoroso,
E mui valente guerreiro:
Sabia mandar manobras
Ou no campo ou no terreiro;
E na cruzada dos perigos
Sempre andava de primeiro.

Das brutas escaramuças,
As artes e astimanhas
Foi o grande Languiru
Que lh'ensinou; e as façanhas,
De enredar o inimigo
Com o saber das aranhas...

E tudo isso aprendia;
E tudo já melhorava,
Sepé-Tiaraiú, chefe
Que os Sete Povos mandava,
Escutado pelos padres,
Que cada qual consultava.

Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!

E quando a guerra chegou
Por ordem dos Reis de além,
O lunar do moço índio
Brilhou de dia também,
Para que os povos vissem
Que Deus lhe queria bem...

Era a lomba da defesa,
Nas coxilhas de Ibagé,
Cacique muito matreiro
Que nunca mudou de fé:
Cavalo deu a ninguém...
E a ninguém deixou de a pé...

Lançaram-se cavaleiros
E infantes, com partasanas,
Contra os Tapes defensores
Do seu pomar e cabanas;
A mortandade batia,
Como ceifa de espadanas...

Couraças duras, de ferro,
Davam abrigo à vida
Dos muitos, que, assim fiados,
Cercavam um só na lida!...
Um só, que de flecha e arco,
Entra na luta perdida...

Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!

Os mosquetes estrondeiam
Sobre a gente ignorada,
Que, acima do seu espanto,
Tem a vida decepada...;
E colubrinas maiores
Fazem maior matinada!...

Dócil gente, não receia
As iras de Portugal:
Porque nunca houve lembrança
De haver-lhe feito algum mal:
Nunca manchara seu teto...;
Nunca comera seu sal!...

E de Castela, tampouco
Esperava tal furor;
Pois sendo seu soberano,
Respeitara seu senhor;
Já lhe dera e ouro e sangue,
E primazia e honor!...

A dor entrava nas carnes...
Na alma, a negra tristeza
Dos guerreiros de Tiaraiú,
Que pelejavam defesa,
Porque o lunar divino
Mandava aquela proeza...

Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!

E já rodavam ginetes
Sobre os corpos dos infantes
Das Sete Santas Missões,
Que pareciam gigantes!...
Na peleja tão sozinhos...
Na morte tão confiantes!...

Mas o lunar de Sepé
Era o rastro procurado
Pelos vassalos dos Reis,
Que o haviam condenado...
Ficando o povo vencido...
E seu haver... conquistado!

Então, Sepé foi erguido
Pela mão de Deus-Senhor,
Que lhe marcara na testa
O sinal do seu penhor!
O corpo, ficou na terra...
A alma, subiu em flor!...

E, subindo para as nuvens,
Mandou aos povos benção!
Que mandava o Deus-Senhor
Por meio do seu clarão...
E o lunar na sua testa
Tomou no céu posição...

Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham,
Dizendo, por nosso bem...
Sepé-Tiaraiú ficou santo
Amém! Amém! Amém!...

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá. Achei muito interessante tua pesquisa sobre Sepé Tiarajú, mas eu gostaria de acrescentar algumas coisas como por exemplo que o arroio são sepé não é em Caçapava do Sul e sim na cidade de São Sepé. O rio corta toda a cidade, e nele se encotra também a Cascata da Pulquéria. A índia Pulquéria era esposa de Sepé Tiarajú. Quando Sepé Tiarajú morreu na guerra a Índia Pulquéria ficou muito triste e chorou muito, e segundo a lenda, de suas lágrimas surgiu o arroio São Sepé que logo mais tarde foi denominado como Rio São Sepé. Nas margens do rio São Sepé também existe a Predra da ìndia Pulquéria, que segundo a lenda é onde pulquéria sentava-se para admirar a lua, e onde ficava esperando observando o rio para saber se seu amado, o Indio Sepé, estava chegando. Perto dalí existe a Gruta do Marco que segundo a lenda foi onde a ìndia pulquéria morreu de Tristeza ao saber que Indio Sepé havia morrido. E até hoje ao entrar dentro da Gruta, vc escuta um barulho, semelhante a um gemido, que segundo a lenda é o espirito da Índia Pulquéria lamentando a morte de seu parceiro. Nasci em São Sepé, e lá na cidade existe na entrada uma estátua do Indio Sepé Tiarajú. Antigamente a cidade se chamava San Sepé em homenagem ao Índio, que logo mais tarde foi denominada São Sepé. Abração e parabéns pelo blog. Meu e-mail é di.mach@bol.com.br

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